domingo, 9 de março de 2014





CIDADE VIRTUAL


Antonio Chalhub

Os munícipes estão, cada dia mais, anestesiados com as mentiras `marquetológicas´ de alguns prefeitos fantasmas que planejam uma cidade virtual. As maquetes eletrônicas e os vídeos com possíveis intervenções urbanas tornam uma fantasia delirante dos governantes, com belas propagandas televisivas e coloridas páginas dos jornais, em peças de propaganda de como seria a cidade. Assim já vimos desfilar o Metro Fantasma de Vitória, a Revitalização do Centro, a quarta e Quinta pontes, as Orlas inúmeras vezes projetadas e os aquaviários reinventados, as Fabricas de Cultura em obras intermináveis e outras dezenas de maquetes virtuais que a cada dia surgem. Muda-se a maquete para ficar tudo como esta, ao povo só resta mesmo o circo da tv. Gastam-se mais com as maquiagens virtuais do que com as obras essenciais para a cidade.

A vida contemporânea e a política atual transformaram o cidadão em espectador e o prefeito em marqueteiro. A propaganda sobre as belezas e o amor por sua cidade camuflam as necessidades de serviços públicos e infraestrutura. A propaganda é a arma do beócio. Os projetos delirantes escondem administradores públicos incompetentes e políticos carreiristas, usando a passagem pelas prefeituras em trampolim para outros cargos.

A apresentação destes planos e maquetes ideais de cidade esconde a incapacidade de gestão dos serviços públicos essenciais de uma cidade real. Pior ainda, em alguns casos os projetos de um futuro distantes servem como justificativa para a inação imediata. Por exemplo, já que teremos o BRT na cidade do futuro por que a prefeitura iria ampliar e melhorar a geometria viária da cidade? Por que melhorar os pontos de ônibus e fiscalizar os serviços das empresas? Por que realizar obras nas ruas, calçadas e gestão do transito para melhorar a mobilidade urbana se teremos um BRT?

É um jogo de empurra onde os prefeitos virtuais apontam um futuro ideal e deixam de fazer a gestão da cidade real. 

sábado, 8 de março de 2014


CIDADE VIRTUAL


Antonio Chalhub

Os munícipes estão, cada dia mais, anestesiados com as mentiras `marquetológicas´ de alguns prefeitos fantasmas que planejam uma cidade virtual. As maquetes eletrônicas e os vídeos com possíveis intervenções urbanas tornam uma fantasia delirante dos governantes, com belas propagandas televisivas e coloridas páginas dos jornais, em peças de propaganda de como seria a cidade. Assim já vimos desfilar o Metro Fantasma de Vitória, a Revitalização do Centro, a quarta e Quinta pontes, as Orlas inúmeras vezes projetadas e os aquaviários reinventados, as Fabricas de Cultura em obras intermináveis e outras dezenas de maquetes virtuais que a cada dia surgem. Muda-se a maquete para ficar tudo como esta, ao povo só resta mesmo o circo da tv. Gastam-se mais com as maquiagens virtuais do que com as obras essenciais para a cidade.

A vida contemporânea e a política atual transformaram o cidadão em espectador e o prefeito em marqueteiro. A propaganda sobre as belezas e o amor por sua cidade camuflam as necessidades de serviços públicos e infraestrutura. A propaganda é a arma do beócio. Os projetos delirantes escondem administradores públicos incompetentes e políticos carreiristas, usando a passagem pelas prefeituras em trampolim para outros cargos.

A apresentação destes planos e maquetes ideais de cidade esconde a incapacidade de gestão dos serviços públicos essenciais de uma cidade real. Pior ainda, em alguns casos os projetos de um futuro distantes servem como justificativa para a inação imediata. Por exemplo, já que teremos o BRT na cidade do futuro por que a prefeitura iria ampliar e melhorar a geometria viária da cidade? Por que melhorar os pontos de ônibus e fiscalizar os serviços das empresas? Por que realizar obras nas ruas, calçadas e gestão do transito para melhorar a mobilidade urbana se teremos um BRT?


É um jogo de empurra onde os prefeitos virtuais apontam um futuro ideal e deixam de fazer a gestão da cidade real. 

domingo, 26 de janeiro de 2014


A LEGISLAÇÃO COMO PACTO SOCIOAMBIENTAL E PRESERVAÇÃO DO IMAGINÁRIO DA CIDADE: VILA VELHA /ES - 1948 A 2008

Antonio Chalhub
Mestre em Urbanismo, Departamento de Planejamento Urbano e Gestão Ambiental, Faculdade SABERES, Vitória- ES, Telefone/fax: 55 –  27 – 3227 8203, chalhub@antoniochalhub.com.br  

RESUMO:
Os elementos históricos e culturais, que configuraram o imaginário da cidade de Vila Velha/ ES, estão também legitimados socialmente nas leis municipais. Estas legislações urbanísticas e ambientais, no período de 1948 a 2008, foram organizadas e sistematizadas com enfoque nestes elementos. Foram categorizadas como: desenvolvimento urbano, quando tratam da manutenção e melhorias do tecido urbano e das ambiências de certas áreas da cidade; ambientais quando procuram identificar elementos de interesse paisagístico ou ecológico e que caracterizam o sítio geográfico da ocupação urbana; leis de planejamento quando regulamentam o parcelamento, o uso e a ocupação do solo. E ainda leis de gestão da cidade, quando abordam os arranjos institucionais e as estruturações administrativas, fiscalização e controle do uso e ocupação do território. Parte desse instrumental jurídico-legal objetiva a preservação de um patrimônio coletivo em contraposição ao processo de renovação e especulação urbanas.
A história da “cidade em si” em meio ao processo de construção de um novo território urbano, em conjunto com a cidade precedente, como diz Giovannoni (1995), fica explicitada nestas tentativas de preservação socioambiental de elementos paisagísticos, urbanísticos, arquitetônicos, artísticos, históricos e simbólicos que a legislação identifica e, de certa forma, protege. O pacto socioambiental de Vila Velha, representado pela legislação, principalmente no Plano Diretor Municipal – PDM trata da preservação do patrimônio, reafirmando estes elementos que compõem a memória coletiva e constituem a identidade desta comunidade. Os cidadãos, pois, se constroem e se reinventam com os significados e atributos do conjunto destes elementos, com a “[...] identificação simbólica por parte de um ator social [...]” (CASTELLS, 2008, p. 25) com seu patrimônio histórico, cultural e ambiental. O pacto socioambiental legitimado no plano diretor através do embate entre os interesses econômicos, políticos e a organização da sociedade civil mantém alguns desses elementos preservados no tecido urbano.
Alguns elementos estruturantes do solo urbano tais como a estrutura fundiária do território, a construção civil, os ciclos econômicos e as obras públicas, de certa forma, condicionam o processo de produção do espaço urbano e direcionaram a ocupação e o uso do solo. Assim, buscou-se compreender em que medida as formulações destas legislações urbanísticas e ambientais no município poderiam ser configuradas enquanto um pacto urbano que veio regular o parcelamento, o uso e a ocupação do solo ou somente legitimar o processo de especulação imobiliária. Esse pacto emerge das articulações políticas entre as forças sociais da sociedade civil organizada, os agentes econômicos e os representantes políticos como reação ao intenso processo de urbanização do município ou como forma de consolidar as potencialidades de uma indústria da construção civil emergente. Assim a pesquisa levantou e sistematizou as legislações urbanísticas e ambientais de modo que possibilitem comparativos entre as históricas transformações na ocupação do solo urbano e a instituição de um pacto socioambiental, bem como sua importância no processo do planejamento urbano em Vila Velha.
Desse modo, discute três questões principais, quais sejam:
1- As legislações urbanísticas e ambientais podem ser consideradas enquanto um pacto socioambiental?
2 - Qual a importância do patrimônio histórico e ambiental para a instituição de um imaginário da cidade no pacto socioambiental?
3 - Em que medida este pacto socioambiental em Vila Velha / ES consolidou instrumentos de planejamento urbano?
A pesquisa mostra que os principais elementos que compõem o patrimônio histórico, cultural e ambiental da cidade de Vila Velha estão identificados e refletidos nas suas leis, no período estudado desde a colonização portuguesa em 1948 até 2008, como uma “cartografia simbólica”, no conceito de Boaventura Santos (2007). Deste modo, o planejamento urbano como lei assume importante papel em manter o tecido urbano conectado ao mapa emocional de sua identidade socioambiental e, ao mesmo tempo, harmonizar os diversos interesses coletivos que devem ser pactuados no uso e ocupação do solo, principalmente na modernização da cidade e o processo de especulação com a terra urbana, em contraponto com a cidade histórica. Estes elementos do imaginário socioambiental da cidade delimitados e identificados nas leis urbanísticas e ambientais têm garantido, de certo modo, sua preservação e devem ser divulgados, conservados e fiscalizados pela população.

Palavras-chave: imaginário, cidade, legislação urbanística e ambiental.


Referências:
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Arantes, O (2001) Urbanismo em fim de linha e outros estudos sobre o colapso da modernização arquitetônica.  Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Argan, G (2005) A história da arte como história da cidade. Martins Fontes, São Paulo.
Araújo, M (2002) Áreas de diretrizes especiais de caráter cultural: construção de modelo normativo para fixação das diretrizes e parâmetros urbanísticos de sua proteção, In E Fernandes, J Rugani (eds) Cidade, memória e legislação – a preservação do patrimônio na perspectiva do direito urbanístico, IAB/MG, Belo Horizonte, 123-137.
Bauman, Z (2005) Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi, Jorge Zahar, Rio de Janeiro.
Câmara Municipal de Vila Velha (1948 a 2008), Leis Municipais.
Câmara Municipal de Vila Velha (2006), Atas das Audiências Públicas do PDM Vila Velha.
Castells, M (2006) A questão urbana, Paz e Terra, São Paulo.
Castells, M (2008) O poder da identidade, Paz e Terra, São Paulo.
Castoriadis, C (1982) A Instituição imaginária da sociedade, Paz e Terra, Rio de Janeiro.
Choay F (2001) A alegoria do patrimônio, UNESP, São Paulo.
Costa R (2006) O mito da desterritorialização – Do “Fim dos Territórios” à Multiterritorialidade, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro.
Duarte F (2002), Crise das matrizes espaciais: arquitetura, cidades, geopolítica, tecnocultura, FAPESP, São Paulo.
Fernandes E Rugani J (2002), Cidade, memória e legislação – a preservação do patrimônio na perspectiva do direito urbanístico, IAB/MG, Belo Horizonte.
Fernandes E (1998) Direito urbanístico, Del Rey, São Paulo.
Giovannoni G (1995) Vecchie città ed edilizia nuova, Città Studi Edizioni, Milano.
Goulart N (1968) Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil, Pioneira Editora, São Paulo.
Lefebvre H (1991) O direito à cidade, Editora Moraes, São Paulo.
Le Goff (1996) História e memória, Editora da UNICAMP, Campinas.
Novaes M (1974) História do Espírito Santo, Fundo Editorial do Espírito Santo, Vitória.

Pechman R (2002) Cidades estreitamente vigiadas: o detetive e o urbanista, Casa da Palavra, Rio de Janeiro.

Souza M (2006) Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro.
Touraine A (1998) Igualdade e diversidade: o sujeito democrático, EDUSC, Bauru, SP.
Villaça F (2004) Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil, In Deák C e Shiffer S, O processo de urbanização no Brasil, EDUSP/USP-FUPAM, São Paulo, 169-243.


O PLANEJAMENTO E A SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA REDE DE CIDADES BRASILEIRAS DO SÉCULO XX


Antonio Chalhub (chalhub.vix@terra.com.br), arquiteto e urbanista, especialista em Educação e Gestão Ambiental / SABERES. Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Departamento de Arquitetura e Urbanismo - DAU, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU, Mestrando / 2008.

RESUMO:

Este artigo pretende fazer uma breve reflexão sobre o processo de urbanização no Brasil, principalmente em suas interfaces com o desenvolvimento econômico e a industrialização. Estes são os pressupostos para compreender a problemática das cidades brasileiras no século XX e o seu planejamento, em especial no que diz respeito aos seus instrumentos de ação, ou seja, dos planos diretores municipais. A rede urbana brasileira se consolidou ao longo destes séculos como conseqüência da ocupação e exploração do território. A piora na qualidade do ambiente urbano, com poluição hídrica, atmosférica, sonora, falta de saneamento e contaminação dos solos pelos lixões, não encontram respaldo na farta legislação ambiental e urbanística existente hoje no Brasil. Isto comprova que as leis não são unicamente os mecanismos de enfrentamento destas questões. A cidade contemporânea deve repensar seu projeto espacial para que as questões do meio ambiente urbano sejam incorporadas nas políticas públicas, nos planejamentos dos diversos níveis de governo, nos programas, planos e projetos. Assim, a integração dos mecanismos de gestão e planejamento urbano e ambiental deve ser condição básica para a sustentabilidade socioambiental.

Palavras-chave: urbanização, planejamento e sustentabilidade socioambiental.




O Imaginário da Cidade e a Globalização

Antonio Chalhub (chalhub.vix@terra.com.br),


professor da Faculdade de Ciências Humanas de Aracruz / ES, Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Departamento de Arquitetura e Urbanismo - DAU, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU, Mestrando / 2008.


RESUMO:
A cidade é sempre uma infinidade de informações prenhes de atributos que formam um juízo de valor cultural representativo socialmente. É uma rede simbólica que se manifesta em um sistema de estruturas espaciais e humanas. A instituição de um imaginário da cidade seria um catalisador da sua transformação socioambiental. As cidades seriam máquinas de sentir, de experimentação sensório-motora em um espaço-tempo. E seu imaginário poderia, ainda, agregar valores conectando a identidade cultural local a atributos globais, como uma mais valia espacial, isto é, referência espacial de subjetividade dentro da rede mundial de cidades.
Palavras-chave: cidade, imaginário, globalização.

O Imaginário da Cidade e a Globalização
Introdução:
O espaço é uma totalidade e não existe desconectado de uma vida pulsante, de uma vida social que o produza como lugar de uma existência humana. A sua derivação para o urbano apenas denota uma singularidade na distinção desta região que apóia os processos de produção e seus fluxos de consumo de bens e serviços, enquanto organização de vida social sobre um território (SANTOS, 1985, p. 47). Entretanto, da cidade poder-se-ia depreender três dimensões, quais sejam, a cidade enquanto civitas, isto é, fator de agregação social e condição humana, a dimensão da pólis como construção política de convivência social com um pacto de pertencimento a uma determinada comunidade e, por último, a da urbe enquanto fenômeno decorrente de um modo de produção social e domínio do território. Lewis Munford (1982) também apresenta a cidade com uma função espiritual de re-ligação dos seres humanos com uma entidade superior e com um forte simbolismo estético, latente desde sua origem e com todas as características essenciais, “[...] O recinto murado, a rua, o quarteirão de casas, o mercado, o recinto do templo com seus pátios interiores, o recinto administrativo, o recinto das oficinas – tudo isso existia pelo menos em forma rudimentar [...]” (MUNFORD, 1982, p. 104). Ortega y Gasset (1982) infere que a vida humana é resultado de sua própria interpretação da realidade, fabricação de si mesma, sendo a técnica uma condição intelectual do ser humano que permite a sua liberdade das necessidades materiais de sobrevivência e o coloca em uma condição de vida em um nível acima do essencialmente animal.  A cidade é, também, uma construção humana na história através da técnica, portanto, algo não natural, como um estranhamento da natureza (ORTEGA Y GASSET, 1982).
O espaço da cidade consolida em sua história diversos impactos ambientais urbanos que são incorporados à cultura e à sua imagem social. Todos os elementos espaciais, construídos ou geográficos, são estruturantes de uma paisagem urbana e carregados de significações. Essa paisagem urbana é o resultado de enormes e sucessivas ações humanas sobre o território em um processo cumulativo historicamente e ainda em curso. Milton Santos (1985) mostra que um elemento no espaço deve ser entendido como um feixe de forças e não enquanto uma mera extensão.
A maior parte da superfície terrestre é um imenso depósito de signos conscientemente deixados por quem nos precedeu: cidades, vilarejos, casas, [...]. Neste imenso arquivo de signos, podemos igualmente apreender um vasto conjunto de intenções, de projetos, bem como de ações concretas de pessoas, de pequenos grupos ou mesmo de sociedades inteiras (SECCHI, 1998, p. 15).
No processo de produção social do território estes elementos, que têm funções urbanas, em relação às instituições humanas de organização e controle configuram um “sistema de estruturas” (SANTOS, 1994, p. 16). Em Milton Santos (1985), o meio ecológico é composto por territórios que são a base física do trabalho humano. O trabalho humano materializado e geografizado na forma de infra-estrutura, casas, plantações, estradas e etc constituem, junto com os meios ecológicos, os sistemas de elementos do espaço urbano. E este sistema complexo de estruturas espaciais e humanas estabelece uma rede significativa em constante mudança e gera, sempre, novos significados conforme seu atributo e sua posição como objeto1 no contexto espacial.
É claro que há, também, uma diferenciação entre pensar em um sistema de estruturas espaciais no tempo presente, ou mesmo em vias de se fazer, e o sistema apreendido como tendência, portanto, apenas como um vislumbre de futuro possível conforme as predominantes linhas de força (SANTOS, 1994, p. 19). Portanto, todas as estruturas espaciais ou institucionais da cidade se caracterizam enquanto elementos essencialmente carregados de uma força informacional e de uma memória técnica2. Assim, todo elemento do espaço representa um “meio técnico-científico-informacional”, isto é, uma construção ou reconstrução histórica “[...] com um crescente conteúdo de ciência e de técnica [...]” que vai além da sua simples funcionalidade e da sua morfologia, mas também imbuído de significados e atributos sociais (SANTOS, 1994, p. 139).
Desenvolvimento:
Os resultados da ação histórica dos homens sobre o meio ambiente - técnica x natureza - são, ao longo do tempo, apresentados como dominação e consolidados enquanto significações que mudam de acordo com o momento histórico. Estes aparecem através das conexões simbólicas que a sociedade estabeleceu entre a expressão de um fenômeno urbanístico, arquitetural ou cultural, ou seja, como uma identidade daquele período. Portanto, a própria história da cidade carrega significados e representações de um simbolismo que ora é individual do historiador, ora é coletivo como reconhecimento social. Ajudam também moldar uma representação simbólica da cidade as narrativas pretensamente científicas, ou neutras, mas que no fundo estarão sempre representando uma percepção singular do mundo. Mas serão sempre ambigüidades como um “conto imaginário” e os seus discursos não seguem o real, apenas o significam (LE GOFF, 1996, p. 38). No entanto, o urbanismo na sua gênese como ciência também começou a se debruçar sobre os fatos urbanos como totalidade para delimitá-los como campo de investigação e atuação. Essas narrativas da cidade foram se tornando um corpo articulado de informações, gerando novos conhecimentos através de conceitos e se firmando enquanto área de saber dos arquitetos e urbanistas.
[...] a cidade é o progresso da razão humana (porque coisa humana por excelência) e esta frase tem um sentido apenas quando iluminamos a questão fundamental, ou seja, que a cidade e cada facto urbano são por sua natureza colectivos. Muitas vezes me interroguei sobre o porquê de só os históricos nos darem um quadro completo da cidade; creio poder responder que isto sucede porque os históricos se ocupam do facto urbano na sua totalidade (ROSSI, 1966, p. 63).
Os vestígios humanos são testemunhos históricos, e, portanto, documentos prenhes de significação da cidade, amálgamas dos fragmentos do passado com o conteúdo de vida atual. É, pois, um museu e um livro abertos e livres para os indivíduos. A face exposta em sua arquitetura, como uma imagem da cidade, apresenta-se enquanto carga simbólica de comunicação morfológica e tipológica que tem uma leitura social subjacente. Não se trata aqui de uma imagem da cidade como preconizada em Kevin Lynch (1973), onde há uma importante contribuição na análise qualitativa da questão urbana por suas pesquisas sobre o modo como as pessoas observam, transitam e percebem a cidade, mesmo ele tratando apenas com um certo grupo social. Lynch (1973) demonstra como os indivíduos percebem e organizam informações quando circulam pelo espaço urbano e as influências do tempo e da história na interpretação da cidade. É importante o seu conceito de que as pessoas criam “mapas mentais” para compreender e viver no espaço urbano, onde vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos de referência formam uma rede de informações sígnicas essenciais para a vida social nas cidades (LYNCH, 1973). A cidade é um conceito abstrato produzindo subjetividade o tempo todo e essa é sua força imaginativa, pois ela possui todos os seres humanos. A subjetividade é relação de devir, individuação existencial, processos das multiplicidades que “[...] ultrapassam a distinção entre a consciência e o inconsciente, entre a natureza e a história, o corpo e a alma” (DELEUZE e GUATARRI, 1995, p. 08). A cidade deve ser entendida como uma “[...] cartografia multidimensional da produção de subjetividade” (GUATARRI, 2006, p. 176). Está no espaço da arte como obra coletiva e social, como manifestação do espírito humano. E com este caráter universal a cidade torna-se suscetível de atributos e objeto de juízo de valor (ARGAN, 1992, p. 220).
O espaço urbano é um processo onde os simbolismos alicerçam uma sensação de integração em uma comunidade e ao mesmo tempo um entendimento de qual é o seu lugar na organização social refletida no espaço. O espaço se encarrega, pois, de dialogar com o indivíduo e estabelecer os limites e as correlações de lugar de acordo com os elementos que configuram uma linguagem e escritas urbanas. Ou seja, não é apenas objeto-mercadoria da sociedade pós-industrial, mas, acaba por imprimir e expressar um sentido para estes elementos e objetos dentro de uma estrutura e de um sistema espacial. O sentido na arquitetura seria dado por uma “linguagem arquitetural” onde o espaço pode ser temporalizado, como prisão do espírito, “[...] numa dimensão específica da arquitetura: a dimensão do imaginário” (COELHO NETTO, 1999, p. 97).
A cidade, pois, está além daquela visão de funcionalidade, como máquina de viver em comunidade, ou de uma noção econômico-racionalista de produção social do espaço destinado à satisfação das necessidades da vida humana em sociedade. A organização social atua na transformação do território e de certo modo cria um repertório espacial simbólico. A transformação do território, mesmo feita de modo planejado para mitigar os impactos ambientais, carrega nova carga simbólica. As propagandas desses novos espaços embutem uma nova imagem como atrativo nas vendas de terrenos, de apartamentos e de bairros inteiros. Mendonça (1995) destaca elementos de morfologia urbana, de tipologia arquitetônica e de um planejamento estatal, bem como da ação de movimentos sociais, para uma definição de territorialidade / identidade de lugar. No entanto, aponta como categoria de intervenção para (trans)formação do território vantagens na melhoria da sua imagem. Dessa forma, porções do espaço da cidade, enquanto “consumo coletivo”, é resultado de intervenções que criam identidades no ambiente construído e servem para “transformar a imagem”, assim concedendo-lhe um novo “status” (MENDONÇA, 1995, p. 2005).
Na realidade, trata-se de meios materiais de um tipo radicalmente não-mercantil (ou misto), muito embora sejam objetos de uma avaliação mercantil, pois o que produzem não é um produto material, mas um serviço, uma informação, no sentido lato do termo produzem SENTIDO (LOJKINE, 1997, p. 15).
É, portanto, na representação espacial que esta articulação da sociedade com o mundo, através da técnica, dos elementos arquitetônicos e urbanísticos, define sua identidade cultural, na medida em que “todas as identidades estão localizadas no espaço e no tempo simbólicos” (HALL, 2005, p. 76). Desse modo, pode-se entender que o espaço urbano contém diversos elementos espaciais informacionais – EEI`s como sínteses tecnogeográficas, isto é, representação lógica e articulada do espaço como um conjunto de fixos e fluxos interagindo no espaço-tempo geográfico (SANTOS, 1985). Esse termo, tecnogeográfico, é apresentado por Milton Santos (2002) como fruto da inteligência humana em interpolar um meio misto que seria técnico e geográfico ao mesmo tempo. Este elemento é algo ou porção da cidade que desperta alguma significação, seja individual e/ou coletiva, transformando-se em referência simbólica da vida em sociedade, mesmo que também tenha uma função logística estrutural ou institucional. Assim, os “[...] objetos geográficos, cujo conjunto nos dá a configuração territorial e nos definem o próprio território, são, a cada dia que passa, mais carregados de informação” (SANTOS, 1994, p. 140).
Estes elementos espaciais informacionais – EEI`s estão intrinsecamente conectados na totalidade do espaço-tempo. São coisas e pessoas, fluxos e fixos, ou seja, tudo aquilo que configura a realidade sensível e perceptível da paisagem e da vida humana. Quando estas estruturas e elementos se transformam em referências simbólicas3 da vida em sociedade estão produzindo subjetividade e se credenciando também junto ao processo de produção imaterial[i]. Desta forma, são como patrimônios artísticos, arquitetônicos, paisagísticos e culturais da cidade, ou seja, como bens coletivos com atributos imateriais, que estes elementos se incorporam ao simbolismo da cidade. Mas, a cidade como “sistema de informação” está prenhe de enormes possibilidades e de variáveis para as diversas leituras e interpretações desses mesmos atributos espaciais. Argan (2005) fundamenta esse sistema de informações nas referências históricas e da memória (2005, p. 223)
A cidade como categoria de espaço-tempo foi pensada por Milton Santos (1994) para exprimir a necessidade de se articular o conceito de espaço como categoria histórica ao longo de um tempo mutante socialmente.
A cidade é, ao mesmo tempo, uma região e um lugar, porque ela é uma totalidade, e suas partes dispõem de um movimento combinado, segundo uma lei própria, que é a lei do organismo urbano, com o qual se confunde. Na verdade, há leis que se sucedem, denotando o tempo que passa e mudando as denominações desse verdadeiro espaço-tempo, que é a cidade (SANTOS, 1994, p. 71).
Pode-se depreender que não só os elementos manufaturados, organizacionais ou políticos se caracterizam enquanto objetos da técnica humana sobre o espaço, mas também suas conexões no espaço-tempo histórico. Essa é uma tecnoestrutura, na medida em que são os resultados de inter-relações do sistema de objetos com as estruturas sistêmicas sociais e as estruturas ecológicas (SANTOS, 2002, p. 38). Assim, até os objetos naturais são elementos espaciais urbanos em sua relação com o modo de viver da civilização ou elementos espaciais informacionais. Quando os objetos técnicos são compreendidos como aqueles possíveis de serem utilizados pelo homem é claro que todos os elementos da natureza ou do planeta enquanto sistema espacial de totalidade de vivência da civilização humana serão objetos técnicos potenciais (SANTOS, 2002, p. 38). A cada momento que o ser humano faz um re-conhecimento de um elemento em seu meio tecnogeográfico está produzindo uma síntese informacional.
Dessa forma, a cidade é sempre uma infinidade de informações espaciais e arquiteturais4 prenhes de valores e, possivelmente, poder-se-ia formular um juízo ou legitimar politicamente um valor cultural representativo socialmente para cada lugar. Essa topofilia, derivada de um lugar, terá, porém, tantas significações quantos forem os usuários do espaço, em inter-relação espacial sensóio-motora e afetiva com esses elementos urbanos. No livro de Tuan (1980), essa abordagem de um topos espacial e que contenha atributos socialmente reconhecíveis pode ser depreendido. Interessa nesse momento o aspecto quase que de sinônimo de “lugar social”, ou de pertencimento de um indivíduo em seu espaço no mundo e em relação a outros entes sociais. A topofilia é um neologismo amplo que inclui “todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material” (TUAN, 1980, p.107). No entanto, quando esses juízos de valor se configuram como referenciais da cultura citadina passam a ter atributos sociais e se tornam politicamente reconhecidos, legitimados e preservados. Ou seja, institucionalizados enquanto elementos simbólicos.
Não se trata pois dos objetos definidos segundo sua função, ou segundo as classes em que se poderia subdividi-los para comodidade da análise, mas dos processos pelos quais as pessoas entram em relação com eles e da sistemática das condutas e das relações humanas que disso resulta (BAUDRILLARD, 2006, p. 11).
A percepção que os indivíduos têm do espaço, seja como paisagem ou como território, é a mais variada possível. No entanto, como membros de uma mesma espécie, os seres humanos, são limitados a perceber o mundo de acordo com seus aparelhos sensoriais e motores. Esta unicidade da perspectiva humana precede por seu equipamento perceptual, com a visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar, mas pode também ser sensível às mudanças sutis de umidade, pressão atmosférica e humor. As informações disponíveis no espaço vivencial do ser humano são imensas. Ele “[...] percebe o mundo simultaneamente através de todos os sentidos [...]” (TUAN, 1980, p. 12) e elabora mentalmente regras lógicas como forma racional de entender e representar essa realidade percebida.
[...] os seres humanos ostentam uma capacidade altamente desenvolvida para o comportamento simbólico. Uma linguagem abstrata de sinais e símbolos é privativa da espécie humana. Com ela, os seres humanos construíram mundos mentais para se relacionarem entre si e com a realidade externa. O meio ambiente artificial que construíram é resultado de processos mentais [...] (TUAN, 1980, p. 15).
Dessa forma, pode-se, a partir da premissa de Tuan (1980), dizer que a cidade é produto de uma elaboração mental e simbólica do ser humano, sendo, pois, carregada de atributos e intencionalidades. Mais que isso, elabora uma estrutura de respostas psicológicas comuns para entender essa experiência espacial. Apenas essa memória perceptiva no espaço poderá fornecer elementos suficientes e complementares ao processo mental de elaboração de uma imagem simbólica. O costume de estruturar o espaço em posições, formas, cores, direções, substâncias e outros, “[...] estimula uma visão simbólica do mundo” (TUAN, 1980, p. 26). Dessa forma, o símbolo é incorporado ao espaço urbano como algo que tem um sentido implícito e pode ser socialmente reconhecível, legível como elemento de um repertório espacialmente estruturado em forma de cidade, baseado em sentimentos topofílicos.
A experiência humana do fenômeno da urbanização na civilização contemporânea coloca a cidade como um elemento simbólico quase que universal. Alguns significados espaciais são depreendidos ou assimilados de modo natural, mas ainda podem ter gradações muito peculiares na composição de um imaginário de acordo com o indivíduo que o percebe. Portanto, as intervenções humanas sobre o território alterando a paisagem podem ser consideradas desígnios com uma intenção e também geradores de imagens e significações incorporadas ao processo histórico da vida de uma determinada sociedade.
A “sintaxe espacial”5 busca estabelecer relações entre a estrutura espacial de cidades e de edifícios com “a dimensão espacial das estruturas sociais” (HOLANDA, 2002, p. 92). Tem o propósito de “[...] olhar para sociedades espacialmente” e compreender as relações entre arquitetura e sociedade (HOLANDA, 2002, p. 115). Dessa “lógica espacial” emergem três níveis analíticos, quais sejam, padrões espaciais / vida espacial / vida social (HOLANDA, 2002, p. 93). A identidade espacial da cidade também estabelece como categoria de análise específica os aspectos simbólicos (HOLANDA, 2002, p. 76). E esse referencial teórico possibilitaria relacionar “atributos espaciais e estados de espírito” (HOLANDA, 2002, p. 77). Portanto, estes aspectos simbólicos e as representações do imaginário da cidade podem ajudar no entendimento do tempo e lugar históricos, como um “plano de valores”. A variação espacial seria, pois, depreendida enquanto “[...] elemento constituinte, isto é uma forma por meio da qual tais dimensões abstratas se manifestam no mundo real” (HOLANDA, 2002, p. 115). Para a cidade parece importante aprofundar o entendimento destes aspectos simbólicos do espaço arquitetônico em nível analítico da vida social. Assim, apresentam-se as “cidades simbólicas” como sendo aquelas que carregam no seu tipo mórfico “símbolos de natureza coletiva” de representação da vida social (HOLANDA, 2002, p. 125). Ora, este é um campo provocativamente vasto de investigação para o imaginário da cidade.
O imaginário se manifesta no fazer histórico e na constituição de um universo de significações (CASTORIADIS, 1982, p. 12). Segundo Castoriadis (1982), não é meramente a imagem de alguma coisa, nem somente uma representação: “É criação incessante e essencialmente indeterminada (social-histórica e psíquica) de figuras/formas/imagens, a partir das quais somente é possível falar-se de “alguma coisa”. Aquilo que denominamos “realidade” e “racionalidade” são seus produtos” (CASTORIADIS, 1982, p. 13).
Ora, parece que aquela definição do elemento espacial informacional, abordada inicialmente, cabe perfeitamente nessa capacidade “incessante” de gerar social, histórica e psiquicamente um imaginário da cidade. Da mesma forma, o ritual cotidiano na experimentação do espaço cria uma representação da realidade com seu simbolismo e, ainda, as referências históricas rememoram um passado comunitário na formação da identidade do lugar. Esse não é, nem pode ser, um lugar neutro, na medida em que se circunscrevem determinados signos neste espaço-tempo e com uma “ordem significante”6 que está essencialmente fundada no sujeito que a encontra. É assim que se estabelece essa sensação de reconhecimento do espaço urbano e, mesmo naquelas cidades desconhecidas, existe uma lógica espacialmente concebida que irá fazer com que todo indivíduo perceba determinados elementos urbanos como se encontrasse alguma coisa em seu inconsciente que os tornassem familiares.
Assim, a cidade como totalidade e, mesmo, suas partes já apresentam em si uma lógica espacial simbólica muito peculiar onde engendra suas relações com os sistemas de objetos e os sistemas de ações humanas. Mas, ensina Castoriadis (1982) que existe um componente imaginário em todo símbolo e em qualquer nível que ele se apresente (CASTORIADIS, 1982, p. 154). Lembra ainda que o termo imaginário poder-se-ia empregar para falar de algo “inventado”, seja uma estória imaginada ou um deslocamento dos símbolos usados, isto é, algo subjacente investido de outras significações, metáforas ou metonímias, fruto da imaginação. Segundo Sartre, “se me examino a mim mesmo sem preconceitos, observarei que opero espontaneamente a discriminação entre a existência como coisa e a existência como imagem” (SARTRE, 2006, p. 08). Mas esse afastamento do objeto, enquanto recuo necessário para abstração e ação da faculdade imaginativa, não cria imagens (FLUSSER, 2007, p.164).
A “imaginação” (Einbildungskraft) por si só não é suficiente para criar imagens. Aquilo que é visto (o fato, a circunstância) deve ser fixado e se tornar acessível para todos. Deve ser codificado em símbolos, e esse código deve ser alimentado em uma memória[...]; o código existe para ser decifrado pelos outros (FLUSSER, 2007, p.164).
O imaginário será sempre algo descolado do real. Dessa forma, usa o simbolismo como representação e a percepção do espaço-tempo real, não somente para exprimir-se, o que é óbvio, mas para “existir” e passar do virtual a qualquer coisa a mais (CASTORIADIS, 1982, p. 154). Portanto, o imaginário é, de certa forma, composto por imagens como representação de “outra coisa”. É o real transmutado em algo que ele não é, mas, como forma de representação ou, ensina Baudrillar (1991), como simulação. Esta capacidade simbólica estabelecida por um vínculo permanente entre a realidade das coisas e sua representação é uma função imaginária. Nos estudos antropológicos de Gilbert Durand (1997) o imaginário é o trajeto no qual a representação do objeto “se deixa assimilar e modelar pelos imperativos pulsionais do sujeito” (DURAND, 1997, p. 41). Assim, a história e as artes são apenas algumas das muitas extensões dessa “essência do espírito” humano como recurso expressivo do imaginário “por meio da forma espacial” (DURAND, 1997, p. 432).
Longe de ser epifenômeno passivo, aniquilação ou então vã contemplação de um passado terminado, o imaginário não só se manifestou como atividade que transforma o mundo, como imaginação criadora, mas sobretudo como transformação eufêmica do mundo, como intellectus sanctus, como ordenança do ser às ordens do melhor (DURAND, 1997, p. 432).
Dessa forma, os elementos construídos e referências paisagísticas, bem como a própria estrutura urbana e as diversas inter-relações sociais são constituintes importantes e indissociáveis de seus atributos de algo criado como cultura, ou seja, são efetivas instituições imaginárias da cidade, carregando em si certa ordem significante e simbólica. O que se pretende, em último caso, com o simbolismo é estabelecer um discurso lógico que transmita um sentido que possa ser percebido, racionalizado e imaginado. Mas, a cidade elaborada em nível do simbólico é combustível de um imaginário, está no inconsciente do sujeito, em seu “esquema organizador-organizado que se representa por imagem”. Em seu “sistema relacional articulado” como a “fonte da significância simbólica ulterior” (CASTORIADIS, 1982, p. 172). Portanto, como admite o próprio Castoriadis (1982) existe a possibilidade de se penetrar no labirinto do imaginário através daquilo que “cresce imediatamente na superfície da vida social”. Assim, pode-se chegar a significações e articulações desta sociedade, não apenas representações, mas “esquemas organizadores que são condição de representabilidade de tudo que essa sociedade pode dar-se” (CASTORIADIS, 1982, p. 173).
Esta categorização do espaço da cidade enquanto imaginário como em uma espécie de espelho tridimensional, ou hologramático, permite uma depreensão-percepção sensório-motora desse espaço-tempo social.
Ou seja, as sociedades são a imagem que têm de si vistas nos espelhos que constroem para reproduzir as identificações dominantes num dado momento histórico. São os espelhos que, ao criar sistemas e práticas de semelhança, correspondência e identidade, asseguram as rotinas que sustentam a vida em sociedade [...]. (SANTOS, B. de S., 2007, pp. 47-48).
Portanto, as memórias, os relatos, as representações artísticas e, atualmente, as imagens veiculadas nas redes mundiais, via satélite ou Internet, formam os elementos simbólicos que são depreendidos como um pano de fundo desta imagem social. A cidade é captada pelo indivíduo e pela sociedade de uma forma determinada, com um sentido articulado e em função de um sistema de significações. Dessa forma, colaboram para a formação de um imaginário tanto as artes visuais, pintura, fotografia, cinema, literatura, passando pelas crônicas jornalísticas, o espaço virtual telemático, outros meios áudio-visuais, bem como as novas tecnologias de comunicação e informação. Os monumentos conservados no espaço urbano como patrimônio histórico também servem bem a esse propósito de constituição de um imaginário. Mas, a cidade como sistema de informação está prenhe de possibilidades e de variáveis para as leituras e interpretações desses atributos, com base nas referências históricas e da memória. A cidade, através da:
[...] tecnologia moderna continua sendo, e será sempre um espaço visual, um espaço que poderia ser organizado como sistema de informação. Mas pelo simples fato de ser espaço e, portanto, em última análise, pensamento, ele fixa a notícia, dá-lhe um sentido, um lugar, um valor; acentua como essencial o instante em que é recebida; obriga-a a provocar uma reação, iniciar um processo que poderá concluir-se com juízo de valor, uma decisão moral (ARGAN, 2005, p. 223).
Este caráter de uma “memória viva” da cidade, em sua relação com a sociedade, é sua função antropológica enquanto identidade cultural da comunidade com seu lugar. No entanto, o espaço é uma categoria de pensamento fundamental e não apenas “aspecto contingente”, mas, também expressa conteúdos da ação humana (HARVEY, 2007, p.190). A capacidade de um indivíduo ler e interpretar o espaço da cidade é desenvolvida ao longo de sua vida e de suas inter-relações ambientais, sociais e culturais. É produzida por um repertório adquirido com o filtro social e cultural, através de ponderações e interações entre os vários sistemas informacionais desta rede de ambientes construídos e/ou naturais, bem como, através das conexões espaciais e sociais. Cada porção do espaço da cidade está carregada de atributos informacionais de história, de memória e de cultura que produzem subjetividade e criam, ou reproduzem, uma imagem como referência simbólica. Le Goff (1996) coloca a história como o registro de um acontecimento singular, ou série deles com personagens únicos no tempo-espaço. Conclui que a obra do historiador, por sua característica, é “[...] uma forma de atividade simultaneamente poética, científica e filosófica” (LE GOFF, 1996, pp. 15-37). Walter Benjamin (1994), pensando sobre o conceito da história, escreve que: “A verdadeira imagem do passado perpassa, veloz. O passado só se deixa fixar, como imagem que relampeja irreversivelmente, no momento em que é reconhecido” (BENJAMIN, 1994, p. 224).
A cidade como produto do trabalho humano sobre o espaço se forma e se apropria das memórias criadas pelas vivências das comunidades e dos indivíduos. A identidade do cidadão com o seu espaço urbano é estabelecida na medida em que haja uma percepção de pertencimento a uma comunidade, estabelecendo vínculos que o identificam com os outros. O cotidiano urbano promove uma intensa experiência social de lugar e isto cria imensa carga emocional com os espaços tornando-os dispositivos simbólicos, ou seja, carregados de significação (CERTEAU, 1996). O processo de relações cotidianas entre o homem e seu espaço urbano cria um entrelaçamento que forma um tecido social, costurado e cerzido no espaço urbano através de uma sociabilidade ativa (CERTEAU, 1996). É claro que esta cotidianidade cria e nutre espaços de memória individual e coletiva construídas por uma narratividade espaço-temporal onde a cidade é um ser plural prenhe de subjetividade.
Considerações finais:
Essa profusão de informações provenientes dos espaços de vivência na cidade estabelece uma significação da percepção em nível simbólico. Ou seja, o mundo se ordena segundo as capacidades de percepção do corpo do indivíduo e os objetos que o cercam refletem uma possível ação deste sobre eles (BERGSON, 2006, p. 82). Assim, o corpo quando em contato com o espaço da cidade elabora percepções e pode criar movimentos ou sensações que podem se tornar lembranças, isto é, a criação de significados singulares de relação com os objetos exteriores. Os estados afetivos derivados da mera percepção das coisas e do mundo exterior, da cidade, são os promotores de uma memória “[...] que prolonga uns nos outros uma pluralidade de momentos” (BERGSON, 2006, p. 87). A lembrança de uma sensação é um estado da mente onde uma coisa seria capaz de sugerir ou fazer renascer uma memória que emerge do inconsciente por sugestão, “[...] uma marca do que não existe mais, do que ainda queria ser” (BERGSON, 2007, p. 51).
Essa é uma forma de produção de subjetividade pelas qualidades sensíveis do espaço urbano real, em uma formação da memória e de uma percepção singular e temporalizada dos objetos e elementos da cidade. O imaginário está, pois, conectado ao espaço da civitas, da urbe e da pólis e às questões de uma memória historicamente coletivizada, criando-se um campo de significações e qualidades espaciais. Proporcionam uma identidade cultural e, portanto, estabelecem as condições essenciais para a sua singularidade no sistema de capitalismo mundial integrado.
No entanto, a questão de uma identidade cultural nos tempos atuais implica em uma ainda infindável discussão na teoria social. Mas, como demonstra Hall (2006), está acontecendo uma mudança estrutural nas sociedades modernas do fim do século XX. Há uma fragmentação das paisagens culturais, das classes, dos gêneros, da etnia e até das nacionalidades que até então “[...] tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais” e ajudado a formar uma concepção de identidade. Stuart Hall (2006) estabelece três concepções de identidade baseadas no sujeito historicamente constituído, quais sejam, o sujeito do iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. O sujeito do iluminismo seria embasado no [...] indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e da ação”. O sociológico, refletindo a complexidade do mundo moderno e a “[...] consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo”, mas sim formado pela sua relação com as outras pessoas que mediavam valores, sentidos e símbolos (HALL, 2006, p. 11). Por fim, o sujeito pós-moderno que “[...] assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um eu coerente” (HALL, 2006, p. 13). Esta é uma explicação para o que se caracterizou como “crise de identidade”, onde está acontecendo um duplo deslocamento dos indivíduos de “[...] seu lugar no mundo social e cultural”, bem como de si mesmos (HALL, 2006, p. 09). E isto está, conclui Hall (2006), produzindo o “[...] sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente”, pois está sendo formado e transformado pelas formas de representação ou interpelação nos sistemas culturais que o rodeia (HALL, 2006. pp. 12-13). A identidade também pode ser forjada pelo reconhecimento da diferença, da multiplicidade dos “sistemas de significação e representação cultural” em processo cada vez mais intenso na globalização com a criação de culturas híbridas (CANCLINI, 2001). Portanto, também a dimensão da orbe, esta nova sociedade mundial integrada, pode influenciar na hibridização desse imaginário da cidade com uma globalização imaginária.
Há ainda deslocamentos da identidade enquanto uma cartografia antropológica como suporte para desenvolver as diversas dimensões de um ser (LÉVY, 1998, p. 130). Lévy (1998) argumenta que a construção da identidade de um ser é como “[...] uma rede de relações cósmicas que o definem e designam seu lugar” e essa identidade “[...] organiza-se em torno de imagens dinâmicas, imagens que ele produz por intermédio de exploração e transformação das realidades virtuais das quais participa” (LÉVY, 1988, pp. 131-134). Essa nova dimensão para a idéia de uma identidade cultural para a cidade, por meio do espaço virtual, é uma visão sociológica do intelectual coletivo, como construção de um cinemapa de significações e de uma cartografia hologramática para a cidade. No entanto, como admite Lévy (1998), a quântica desta qualidade de vida social no ciberespaço7 “[...] pulveriza os signos do saber ou da identidade, mas, também, permite-lhes fluir, mesclar-se, reencontrar-se, valorizar-se, dilatar-se e trocar-se [...]” (LÉVY, 1998, p. 137). É neste universo da multiculturalidade e da hibridização das culturas que atua Canclini (2001) e, por conseguinte, num deslocamento das identidades culturais e dos imaginários da cidade em tempos de globalização.
No entanto, para o entendimento do que seria a formação de uma identidade cultural para a cidade, dever-se-iam, ainda, abordar os deslocamentos paradigmáticos provocados pelas novas tecnologias de informação e comunicação nesta nova forma de capitalismo da pós-modernidade. Essas mudanças culturais, tanto quanto as econômicas e sociais dessa sociedade pós-industrial implicam em uma nova dimensão cognitiva (COCCO, SILVA e GALVÃO, 2003). Desse modo, impor-se-ia para a cidade um novo papel, um novo imaginário como reflexo manifesto dessa nova economia contemporânea do capitalismo cognitivo8. O importante é que esse novo modo de produção transformará as identidades culturais da cidade na mesma medida em que a forma-mercado, a forma-mercadoria, bem como o mercado de trabalho, os bens e serviços. Tudo isso provocaria mudanças na técnica e na forma de espaço-tempo da sociedade contemporânea e na organização do território da cidade (COCCO, SILVA e GALVÃO, 2003, p. 39). E essas mudanças ainda se refletirão na economia pós-industrial globalizada fundada no tratamento da informação em um ciclo de produção imaterial9 e reprodução de subjetividade (LAZZARATO e NEGRI, 2001, p. 30). Assim, a instituição de um imaginário da cidade poderá ser um catalisador do trabalho imaterial para transformá-la em mercadoria de consumo.
A linguagem espacial se confunde com a própria realidade e desse modo é mais facilmente absorvida como “verdade” intrínseca da vida. A semiologia como ciência geral dos signos foi postulada por Saussure (1916) em seu “Curso de Lingüística geral”. Os objetos, imagens, comportamentos e gestos significam, mas não de maneira autônoma, pois, “[...] qualquer sistema semiológico repassa-se de linguagem” (BARTHES, 2006, p. 12). Este sistema se significações da linguagem, como projeto estruturalista, é a construção de um “[...] simulacro dos objetos observados” (BARTHES, 2006, p. 103). “O homem vive com seus objetos, fundamental e até exclusivamente, tal como a linguagem lhos apresenta, pois nele o sentir e o atuar dependem de suas representações” (CASSIER, 1972, p. 23). Portanto, a manutenção do imaginário é a garantia de se preservar o poder e a ordem urbana através da reprodução espacial e do controle sobre os meios de comunicação de massa, enfim, das tecnologias de informação e legitimação do saber. Lyotard (1986) afirma que o “[...] saber científico é uma espécie de discurso” que procura manter o poder do conhecimento restrito como forma de controle da sociedade por uma elite, política ou acadêmica (LYOTARD, 1986, pp. 4-6). E também a posição do saber nas sociedades mais desenvolvidas, e este, enquanto discurso científico legitimado, é a principal força de produção e desafio na “competição mundial pelo poder”. (LYOTARD, 1986, p. 05). As cidades são espaços relevantes nesse contexto para manter e ressignificar as forças geopolíticas do capitalismo, pois a industrialização e a urbanização são processos xipófagos e interdependentes. David Harvey (2007) aborda a questão das mudanças sócio-econômicas, a partir de 1972, promovendo novas formas de percepção do tempo e do espaço provocadas pelo processo de acumulação capitalista e o surgimento de uma nova sociedade pós-industrial.
Entretanto, agora, nessa fase pós-industrial, em tempos de virtualização da produção, dos mercados e do consumo globalizado, o fenômeno urbano estaria configurado como uma mercadoria imaginária ou, ainda, como força imaginativa. Assim, a instituição de um imaginário da cidade poderá ser um processo de conservação da organização social ou um catalisador do trabalho imaterial na produção de subjetividade. Não só uma mercadoria de consumo imagético, mas, também, um processo de transformação socioambiental através da força imaginativa. É um enfoque de representação simbólica socioespacial que, com certeza, será complementar ao conceito de cidades globais, proposto por Saskia Sassen (1998), como lugares-chave para os serviços de gerenciamento e controle das operações econômicas globais. “As cidades globais são lugares-chave para os serviços avançados e para as telecomunicações necessárias à implementação e ao gerenciamento das operações econômicas globais” (SASSEN, 1998, p. 35). Portanto, como mostra Canclini (2007), a identidade cultural nas cidades globais representa uma grande força imaginativa e um caráter singular enquanto imaginário. Desse modo, as cidades que também apresentam atributos espaciais e experimentam espaço-tempo de um imaginário singular e de subjetividade tem maior potencial na rede do capitalismo mundial integrado. Representa uma mais-valia espacial enquanto máquinas de sentir, na medida em que seriam lugares estratégicos de experimentação e percepção do espaço-tempo urbano na rede global. O imaginário da cidade, desse modo, armazena uma imensa e infinita quantidade de memória, história, vida socioambiental, atributos espaciais e identidade cultural que se transforma em uma poética urbana, isto é, em subjetividade. É, pois, oportunidade para surgir a “cidade subjetiva” (DELEUZE e GUATARRI, 1995).  Ou a reinvenção de um devir urbano prenhe de significações e que depende de um novo urbanismo com “[...] responsabilidades estéticas, éticas e políticas” (GUATARRI, 2006, p. 178).
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RESUMEN:
El Imaginário de la Ciudad y la Globalización.
La ciudad es siempre una infinidad de informaciones llenas de atributos que forman un juzgamento de valor cultural representativo socialmente. Es una red simbólica que se manifiesta en un sistema de estruturas espaciales y humanas. La instituición de un imaginário de la ciudad, seria un catalizador de su transformación socio-ambiental. Las ciudades serian máquinas de sentir, de experimentación sensório-motora en un espacio-tiempo. Y su imaginário podria, todavia, agregar valores conectando la identidade cultural local a atributos globales, como una más valia espacial, esto es, referencia espacial de subjetividad dentro de la red mundial de ciudades.
Palabras Claves: ciudad, imaginário, globalización.


ABSTRACT:
The Imaginary of the City and the Globalization
The city is always a plethora of information for pregnant attributes that make a judgement of cultural value socially representative. It is a symbolic network that is manifested in a system of spatial structures and humanities. The establishment of an imaginary of the city would be a catalyst for socio its transformation. The cities of machinery would feel, sensory-motor testing in a space-time. And his imagination could also add value connecting to the local cultural identity attributes overall, as an added value space, that is, spatial reference of subjectivity into the global network of cities.
Keywords: city, imaginary, globalization.


RÉSUMÉ:
L’imaginaire de la ville et la mondialisation
La ville est toujours une multitude d'informations plein d’attributs qui rendent un jugement de valeur culturelle socialement représentant. Il s'agit d'un réseau symbolique qui se manifeste dans un système de structures spatiales et humaines. La création d'une imaginaire de la ville serait un catalyseur pour l’environnement développement. Les villes sont de machines de sentimentt, d’experiences sensoriells dans un espace-temps. Et votre imaginaire pourrait également ajouter de la valeur de connexion au identité culturelle locale attributs mondial, plus de valeur que l'espace, c'est-à référence spatiale de la subjectivité dans le réseau mondial des villes.
Mots-clés: ville, imaginaire, la mondialisation.
NOTAS:
[1] A distinção entre as palavras e as coisas e suas relações discursivas para expressar significados foi uma preocupação de Foucault. “Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse mais que os torna irredutíveis à língua e ao ato da fala” (FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 5ª ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 55).
2 O nível da civilização, para alguns geógrafos, pode ser medido pelo nível das suas técnicas (SANTOS, 2002, p. 34).
3 Estudos do homem e sua relação com os símbolos estariam, efetivamente, ligados, do ponto de vista de uma corrente da psicanálise, ao entendimento do inconsciente humano. Esta é uma dimensão do “inconsciente coletivo”, para Carl Yung no livro “O Homem e seus Símbolos”, que mostra o inconsciente coletivo como guia importante nessa espécie de “filtro de inteligibilidade” para compreensão dos símbolos. Essa é uma faculdade humana que utiliza os elementos simbólicos para tornar a vida real familiar, com suas conotações e significados manifestadamente convencionais. “Quando a mente explora um símbolo, é conduzida a idéias que estão fora do alcance de nossa razão [...]”. E sempre “[...] utilizamos termos simbólicos como representação de conceitos que não podemos definir ou compreender” (YUNG, C. [Org.]. O Homem e seus Símbolos. - São Paulo: Nova Fronteira/Aldus, 1964, p. 21). Como mostra Bourdieu (2007), os símbolos são instrumentos da “integração social”, tornam possível o consenso “[...] acerca do sentido do mundo social” e contribuem "[...] fundamentalmente para a reprodução da ordem social [...]” (BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 10).
4 As imagens arquiteturais percebidas no espaço urbano são de uma ordem diferente das outras formas de representação da realidade através da arte ou de virtualidades imagéticas da fotografia, da pintura ou do cinema (VIRILIO, P. Espaço crítico. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993, p. 55).
5 A “sintaxe espacial” como referencial teórico emergiu no início da década de 70 com Hillier e Leaman. Posteriormente, com o livro “The Social Logic of Space”, de Hillier e Hanson (1984), é que o “[...] referencial epistemológico, assim como os conceitos e as categorias analíticas básicas, foram mais completamente reunidos pela primeira vez” (HOLANDA, 2002, p. 85).
6 “Há uma eficácia do significante que escapa a toda explicação psicogenética, pois essa ordem significante, simbólica, o sujeito não a introduz, e sim a encontra”. Jacques Lacan Apud Cornelius Castoriadis (CASTORIADIS, 1982, p. 146. - LACAN, J. Seminário 1956-1957. In PONTALIS, J.B. Bulletin de psychologie, vol. X, nº 7, abril, 1957, p. 428).
7 Ciberespaço é caracterizado a partir da difusão dos computadores pessoais e da interconexão de redes, onde a Internet é um símbolo. “O ciberespaço é efetivamente um potente fator de desconcentração e de deslocalização, mas nem por isso elimina os centros [...]”. Por outro lado, o “[...] seu principal efeito seria antes o de tornar os intermediários obsoletos e de aumentar as capacidades de controle e de mobilização direta dos nós de poder sobre os recursos, as competências e os mercados, onde quer que se encontrem” (LÉVY, 1999, p. 190).
8 O capitalismo cognitivo é uma hipótese levantada no livro organizado por Giuseppe Cocco, Alexander Patez Galvão e Gerardo Silva (2003). “A hipótese geral – já somos alguns a propô-la – é de que a longa crise atual, nomeada pelo termo ‘globalização’, traduz uma mutação radical e estrutural do capitalismo, em que o pós-fordismo desemboca no capitalismo cognitivo” (MOULIER-BOUTANG, T. O território e as políticas de controle do trabalho no capitalismo cognitivo. In COCCO, G.,  SILVA, G. e GALVÃO, A. P. [orgs.]. Capitalismo Cognitivo. - Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 37).
9 O trabalho imaterial é uma característica da economia pós-industrial, presente tanto na indústria quanto no terciário, acentuado na forma da produção: “A produção audiovisual, a publicidade, a moda, a produção de software, a gestão do território etc, são definidas através da relação particular que a produção mantém com o seu mercado e os seus consumidores” (NEGRI e LAZZARATO, 2001, p. 45). “[...] a memória contém em si o instrumento, a matéria-prima e a energia necessários para a produção e reprodução dos conhecimentos [...]. As imagens, as sensações, as palavras e os conceitos constituem sua matéria-prima, e a energia necessária à produção é uma energia psíquica ou não-orgânica”. (COCCO, G., SILVA, G. e GALVÃO, A. P. [orgs.], 2003, p. 71).